Hoje, a história que vou contar é de Dona Zezé, que tive o prazer de entrevistar em abril de 2013 para o falecido Jornal Imprensa Livre, quando completava 100 anos de idade. Fiquei pensando se ela estaria , ainda, entre nós, e qual foi a minha surpresa quando soube que comemorou, recentemente, 104 anos. Viva Dona Zezé!
No dia 12 de abril de 1913, em
Uberlândia (MG), nascia Maria José Peçanha, ou simplesmente Dona Zezé. Hoje ela
comemora 100 anos de vida com muita disposição e amor pela vida. Um século de realizações,
de emoções, viagens e mudanças até escolher a cidade de Caraguatatuba para se
fixar. E aqui ela está há quase 30 anos.
Com o espírito de uma jovem, ela
é o xodó da vizinhança onde mora, no Porto Novo, na região sul, e dos amigos
que fez ao longo dos anos. Tanto é que serão pelo menos três dias de festa para
comemorar seu aniversário.
O primeiro já é hoje logo cedo,
lá na piscina do Centro Esportivo Municipal Ubaldo Gomes (Cemug), onde há
vários anos pratica hidroginástica. Disposição não lhe falta porque acorda
ainda de madrugada para se arrumar e encontrar com o professor Camilo e sua
turma. “Eles queriam me fazer uma surpresa, mas o professor já contou para eu
ir preparada que vai ter bolo amanhã (hoje)”, confessa com um largo sorriso de
quem fez alguma traquinagem.
A festança continua amanhã, mas
no salão do bairro Barranco Alto, onde amigos como Ivana Pagnota fizeram
questão de arrumar tudo com muito carinho. Uma festa da comunidade que Dona
Zezé conquistou. No domingo é a vez dos familiares que farão o almoço de
família.
O que não vai faltar é gente
porque Dona Zezé é mãe de dois filhos. Agora a quantidade de netos, bisnetos e
tataraneto ela perdeu as contas. Só lembra que a mais velha tataraneta tem 13
anos e a mais nova 3 anos. “O que vem depois de tataraneta mesmo. Ainda é da
família?”, pergunta bem humorada. Mas se você pensa que o esquecimento é em
função da idade, ledo engano. É porque é muita gente mesmo!
Com ela só mora um filho de 55 anos
que operou da coluna e está afastado do trabalho. Mas é ele que faz todas as
vontades de Dona Zezé, que não são muitas, apenas levá-la à hidroginástica, ao
banco, à casa das amigas, a um passeio... Para isso, ela comprou um carro, seu
primeiro carro, que mostra com orgulho, apesar de não ter habilitação. “Não
dirijo por causa do meu joelho, mas meu neto me leva onde quero”, confessa.
Questionada se a idade avançada,
de alguma forma a atrapalha, ela é taxativa em dizer que não. Adora viajar em
excursões, assim como fazia quando era mais nova e vinha para Caraguatatuba
junto com uma amiga que tinha casa na cidade. Depois que saiu de São Paulo, não
teve dúvidas, escolheu Caraguá para morar, construiu sua casa e nela passa
momentos de sua vida.
Ao ser perguntada sobre mais
motivos que a trouxeram para o Litoral Norte, conta que veio atrás de um
namorado. “Mas não deu certo não e ele seguiu tocando a sua vida e eu a minha”.
Sua casa parece um Jardim
Botânico de tanta planta que ela confessar adorar cuidar. “Gosto muito de
planta e todas elas fui eu que plantei”, conta.
Ah, sabe aquela imagem de vovó
que a gente tem, de quem gosta de dormir cedinho, junto com as galinhas? Com
Dona Zezé não tem nada disso! Cama, só depois das 23h, quando já assistiu todas
as novelas que passam na TV. E no outro dia lá está ela com toda disposição do
mundo, preparada para mais um dia.
Dona Zezé é espírita e conta que
aprendeu muito quando adotou a doutrina kardecista. “Desejo ficar mais uns
tempos aqui, mas Deus é quem sabe, mas se Ele quiser, eu também quero ficar
porque estou muito feliz com o que sou”, reflete. E ela demonstra mesmo toda
essa felicidade. Vaidosa como a maioria das mulheres, gosta de estar bonita
tanto que passou parte dia de ontem se preparando para as festas de
aniversário.
Com um vestido colorido, unhas
feitas e pintadas, cabelo trançado sem a presença de um fio branco e muitas
bijuterias, ela recebeu a reportagem dizendo que quis se preparar para dar a
entrevista e sair bem na foto.
Dona Zezé também faz questão de
cuidar da saúde como conta a sobrinha Marlene de Oliveira, 72 anos, que veio de
Goiânia para comemorar o aniversário da tia. “Pergunta para ela dos chás que
toma?”, sugere.
E é verdade. Diariamente ela levanta e faz uma chaleira com o
chá de 30 ervas e toma pelo menos três vezes por dia. Ah, antes disso, costuma
tomar um copo com água em jejum, um ritual sagrado. Gosta de comer frango e
peixe e raramente come carne vermelha. “Não gosto porque não é muito saudável”,
conta lembrando que deixou de comer soja porque descobriu que não era tão
saudável como se pregavam. “Eu gosto de estar bem, de me cuidar”.
Dona Zezé também é um exemplo
para a comunidade onde reside, nas palavras de dona Célia Rocha, 77 anos, que convive
com ela nesses quase 30 anos. “Ela é um espelho para mim. É nela que me inspiro
todos os dias!” Já a dona de casa Ines Santarello Felipe, 59 anos, tem uma
definição para descrever Dona Zezé: “ela é nossa rainha”.
E é nesse clima de festa e
camaradagem que Dona Zezé comemora seu centenário, nos convidando para o
próximo ano quando pretende soprar as velinhas de 101 anos. Parabéns Dona
Zezé!